Espiritualidade Domesticada Parte 1
- Ricardo Gonçalves e Eduardo Sales
- 16 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

No estudo sobre cultura, inclusive dos povos mais antigos, encontramos sempre manifestações diferentes daquilo que tradicionalmente se chama de espiritualidade ou de religiosidade. Mesmo nos povos mais remotos e chamados pelos brancos europeus de “primitivos”, vamos encontrar manifestações das mais diversas.
Uma coisa que muitos desprezam, contudo, é que para exercer controle do homem sobre o outro homem, categorizar tais manifestações seria (como de fato foi) essencial.
Assim, com a formação dos primeiros impérios, veio muito forte a ideia do dualismo, que ajudou a categorizar, dividir e excluir. Se queremos refletir espiritualidade, precisamos fazer um exercício mental de não exclusão. Temos que abrir a cabeça!
Se quisermos pensar ainda em termos dualista, por exemplo, precisaríamos rever alguns conceitos para nos ajudar a entender o espiritual que falamos aqui na Tribo, ou seja:
Espiritual não é oposto a material, mas ao superficial.
Espiritual não é oposto a carnal, mas ao vegetativo.
Espiritual não é oposto ao moderno e inovador, mas ao rotineiro.
Espiritual não é oposto ao prazer, mas à morte.
Espiritual não é oposto ao criativo e diferente, mas ao rígido e dogmático.
Enfim, ESPIRITUALIDADE NÃO É OPOSTO A...
Como as religiões exerceram e ainda exercem forte controle por meio de regras de “certo x errado”, corremos o risco de não compreender tais balizas como educativas e passarmos a vive-las como repressivas de tudo que pode ser bom, belo, prazeroso, por exemplo. Foi graças a Sócrates, Platão e aqueles que os interpretaram, que temos até hoje um sistema de pensamento vigente que aproxima tudo que é espiritual ao divino, e portanto, ao puro, e tudo que é material ao profano, e portanto ao impuro.
Espiritualidade é UNIÃO, é INTEGRAÇÃO. Se for vivida fora disso, pode se tornar um forte instrumento de dominação e controle. Infelizmente as religiões tendem a sequestrar a espiritualidade, materializando-a e reduzindo-a aos ritos que definem o que é espiritual, quem é espiritual, e por exclusão o que não é e quem não é espiritual.
Como já mencionamos noutro texto, existem múltiplas dimensões na espiritualidade. Defini-la é portanto tão complexo quanto definir (num conceito) o humano. Assim, propomos uma reflexão que chamamos de teologia vivida ou teologia do cotidiano, onde o espiritual é vivido não só na dimensão do religioso, mas na dimensão do simples e das conexões verdadeiramente felizes. Seja em família, no trabalho ou no lazer, viver uma vida que faça sentido para você e que valha a pena se vivida, é uma dimensão da espiritualidade vivida.
A tristeza e a dor também são dimensões emocionais com forte papel na vivência espiritual. Existe uma conexão entre estes sentimentos e a empatia. Em tempos onde vivemos uma espécie de “ditadura da felicidade aparente”, nosso país figura em quase último lugar numa pesquisa mundial sobre empatia.
Numa nação declaradamente cristã (85% da população brasileira), essa posição em empatia é um “tapa na cara”. Uma visão espiritual da dor nos permite perceber o quanto ela pode lecionar nossa capacidade de ir para além do nosso próprio umbigo. Por isso, se possível, hoje ainda, faça algo de positivo para minimizar a dor de alguém, mostre para si mesmo que você está vivo e que ainda se importa com o outro, mesmo que ele ou ela sejam estranhos para você!
Se você se diz religioso ou espiritual, mas não é capaz de dar um passo (legitimo) em direção ao outro, sua espiritualidade está domesticada e seus sentimentos anestesiados. Acorde, é tempo ainda!
Dicas da Tribo:
1. Pergunte para si mesmo: quais são os pensamentos e sentimentos que limitam você de ser quem realmente é e de fazer o que realmente quer?
2. Anote-os e perceba em que áreas de sua vida estão interferindo.
3. Agora escolha novos pensamentos e sentimentos que façam sentido para você e comece a agir de acordo com sua essência e não mais de acordo com as regras (por outros impostas) ou com as aparências.
4. Os frutos virão e você verá que sua espiritualidade era, de fato, domesticada!
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