Espiritualidade Domesticada Parte 2
- Ricardo Gonçalves e Eduardo Sales
- 22 de ago. de 2017
- 4 min de leitura

Você é espiritual mesmo que nunca tenha ido à Igreja.
O ser Humano é espiritual independentemente de ter ou não em sua vida algo que lhe dê um sentimento místico.
A divisão “material X espiritual” é ideológica, e não real.
Para saber, portanto, como esta dimensão está presente ou não na sua vida, pergunte-se:
MINHA ESPIRITUALIDADE É LIVRE OU SUBJUGADA?
A espiritualidade é comparável a um cavalo selvagem, livre, imponente, potente, com brilho nos olhos. Então pare e pense nas diferentes dimensões da sua vida... pode ser o trabalho, seus relacionamentos, sua criatividade, não importa... se em alguma delas ou em todas elas a vida perdeu o brilho, é sinal de que sua espiritualidade está domada, domesticada. Se, por exemplo, no seu trabalho, você não consegue ser quem é, colocar seu potencial todo para fora, usar sua criatividade, etc., é sinal de que você se deixou domesticar neste espaço da sua vida. E isso serve para todo o mais, inclusive para sua Igreja.
Você é um ser livre ou é um ser comparável com um cavalo puxador de carroça?
Você consegue olhar a vida ao seu redor ou já está tão condicionado que só olha numa dada direção e a tem como certa, unicamente certa?
Existem sinais perceptíveis que tornaram os humanos puxadores de carroça; nós os chamamos de “materialidade doentia”. Seja a obesidade mórbida, a ansiedade, a depressão ou a ganância, muitos são os sinais de que o ser humano abandonou, mortificou sua espiritualidade e as vezes o fez por uma triste influência das próprias religiões.
É muito importante que nos demos conta do alerta trazido pelo livro “A Sociedade do Espetáculo”, onde o autor nos mostra que estamos programados para parecermos felizes e que essa felicidade imposta pelos tempos modernos não necessariamente é o modelo de felicidade que caberá para você ou para mim!
Cuidado com o efeito manada... não somos gado!
Neste sentido, é preciso que vejamos (com reservas) nosso apego demasiado às promessas não cumpridas da ciência moderna, que trouxe grande conforto para algumas camadas sociais, mas não ajudou, ainda, a resolver problemas graves como a miséria extrema, por exemplo. É preciso ver ainda, que o ateu e o cientista também são seres com espiritualidade e que nos trazem importantes pontos e contrapontos para uma análise crítica da realidade e das soluções que precisamos e que tais propostas são, muitas vezes, melhores do que as soluções superficiais das religiões.
A busca pela prova, pelo sentido, pela argumentação racional, pelo contraponto... não enfraquecem a espiritualidade, pelo contrário, ajudam nosso entendimento sobre algo que é simples, mas que carece de estudo também. Se uma fé não suporta crítica ou razão, de que vale crer? É justamente assim que se constrói a ciência da interpretação, chamada de hermenêutica. A crítica faz parte da vida, questionar a realidade é manter a espiritualidade viva. Se você deixar de questionar e só disser amém para tudo, inclusive para a ciência, você corre o risco de virar um puxador de carroça.
Como somos serem simbólicos é natural que vejamos a realidade sob os fortes limites do nosso modelo mental. Como criamos realidade e somos criados pela realidade que nos cerca, parte dessa dimensão dos símbolos que usamos para interpretar e interagir com a vida é parte de quem somos e de como pensamos. Sendo assim, é natural que refletir, pensar, questionar, criticar, rever, interpretar, e é claro, ser flexível, faça parte do jogo hermenêutico da vida boa. Quando você se fecha nas suas certezas você reduz a potência da sua inteligência integrativa, pois ela é uma inteligência dinâmica, como a vida.
Quando nos fechamos para a dúvida e para a incerteza (por uma necessidade humana de conforto e certeza) corremos o risco de nos tornarmos fanáticos, e não existe apenas fanatismo religioso. A dúvida, a incerteza e as perguntas que nascem com elas, são parte fundamental da inteligência integrativa.
Se você tem muita potência na sua certeza, mas tem pouca clareza sobre ela, você se torna um ser humano perigoso. Ter nossas certezas íntimas não deve nos fechar para o diálogo, para a possibilidade de novas sínteses ou de novos entendimentos. Os conflitos são reduzidos quando conversamos sobre ideias e não sobre a verdade! Competir é importante, mas cooperar é inteligente.
Outro alerta importante é ter cuidado para não se tornar uma “boa pessoa”. Ser bom é se comparar com alguém. Quando nos comparamos com os outros e nos achamos “os bons” da equação, vamos sempre fazer questão de corrigir ou convencer (ou converter) os outros a qualquer custo. Seja prudente na arte da argumentação e faça com que seus exemplos falem mais alto quando houverem divergências de posicionamento.
Muito cuidado, pois a busca por certezas fixas é um tipo de materialidade perversa. Toda a tendência à fixação (por uma ideia, por exemplo) é uma tendência à materialização. A fixação pode mortificar sua criatividade...
Dicas da Tribo:
Lembre-se de que comunicação tem relação direta com ouvir e compreender o outro e não necessariamente em convencer o outro de que você está certo e ele(a) errado(a). Experimente ficar os próximos 7 dias ouvindo mais e falando menos. Se você, por outro lado, é do tipo calado ou condescendente, experimento o oposto, ou seja, experimente se posicionar firmemente nos próximos 7 dias em assuntos importantes.
A inteligência integrativa só evolui na ação! Ótima semana....
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