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Espiritualidade à Brasileira - Subalternidade e Castração

  • Ricardo Gonçalves, Eduardo Sales e Afrânio Andrade
  • 22 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Olá turma da Tribo Pé no Chão. Tudo bem? Neste texto falamos ainda sobre as influências do colonialismo e de como o pensamento cartesiano que nos coloca separados diante das coisas da vida e nos leva à coisificação.

Começamos levando você a refletir sobre os modelos de Deus e de Estado que chegaram aqui no Brasil com as famosas caravelas. Lembre-se que nações inteiras de indígenas foram quase totalmente dizimadas, pois o Deus dos portugueses e demais europeus que aqui desembarcaram, veio junto com seus canhões. Nações inteiras de negros foram igualmente marcadas pela separação de seus familiares, retirada a força de sua mãe África e ainda pela escravidão. Os genocídios, embora brutais, não foram capazes de eliminar as influencias destes povos em nossa cultura, na arte, na música, na culinária e, é claro, em nossa espiritualidade; mas foram fortes o suficiente para (tentar) sufocar as vozes que lutam ainda hoje, para mostrar sua importância e seu papel em nossa identidade legitimamente brasileira.

O modelo universalista de pensamento proposto desde então foi alicerçado por uma religião oficial até 1891. Mais de 390 anos de cartilha religiosa e estatal.

Mesmo com a liberdade constitucional de credo e a definição do Estado Brasileiro como laico (sem religião oficial), temos, ainda hoje, fortes influências desse modelo. Exemplo disso é a discussão recente sobre símbolos cristãos (especialmente católicos), presentes em repartições públicas brasileiras ou ainda as marchas dos praticantes das religiões de origem afro, pela manutenção de seu direito à liberdade de rito e culto, que aconteceram no Rio Grande do Sul... isso mesmo não foi na Bahia não!!! Vejam, se é assim em questões como liberdade de religião, imaginem o efeito de certas crenças e modelos mentais na formação do imaginário do brasileiro e das bases de nossa cultura e espiritualidade...!

Parte destes efeitos são justamente a subalternidade e a castração.

Lendo Jorge Amado observe-se. Você perceberá o quanto partes do texto ou mesmo do filme, podem ser desconcertantes, mesmo retratando uma realidade tipicamente brasileira, já na década de 40. Os Colonizadores e sua moralidade rígida, ainda retiram nossa voz, e silenciam nossa legitima expressão enquanto povo, enquanto nação fruto da mistura.

Quando pensamos nos conflitos de Dona Flor às voltas com o marido “certinho” e o marido boêmio (já morto), retomamos a ideia do jeitinho brasileiro, não como algo necessariamente ruim ou bom, mas como um produto ou reação à subalternidade e à castração que nos foi imposta.

Para muito além do jeitinho brasileiro, chamamos atenção, ainda, para a gênese do excesso de pudor e até mesmo do tabu que se verifica em nosso país quando o tema é sexualidade ou sensualidade. Muito embora sejamos vistos pelos estrangeiros como um pais “liberal”, o que ainda temos é a coisificação de meninas prostituídas pelos próprios pais ou uma ainda crescente prática de violência contra a mulher!

Ao “vestir os índios e índias” e ao chamar o Brasil de “terra do pecado” os colonizadores tentaram plantar na alma de nossos ancestrais um conflito muito grande entre os desejos que temos de SER e o “como podemos ou não experenciá-los”. Será que você nunca parou para pensar por que temos tudo para dar certo como País, mas sentimos e vemos que isso ainda não aconteceu...?

Isso que para muitos pode parecer bobagem, merece nossa atenção, mesmo analisando, por exemplo, outros países como os EUA. Lá escândalos sexuais derrubam presidentes. No Brasil, por sua vez, escândalos políticos parecem ser mais facilmente aceitáveis do que o respeito à orientação sexual das pessoas, ou do que políticas de inclusão social ou de distribuição de renda.

Neste ponto mais denso, onde espiritualidade, cultura e religião tocam em política e economia, nossa tendência é parar de ler e achar muita viagem ou que não interessa. Mas os reflexos disso em nossa vida são gigantes.

Castramos nossa voz interior e vivemos os sonhos que os outros querem para nós. Desejamos que nossos filhos sejam de TAL jeito ou sigam TAL carreira sem nos ocuparmos legitimamente de seus sonhos e talentos. Nos acostumamos com trabalhos que odiamos apenas por dinheiro ou por certa estabilidade financeira. Frequentemos igrejas cujas mensagens já não tocam nossos corações a ponto de operar em nós transformações reais. Muitos se sentem tolhidos em sua criatividade já por seus professores em tempos de escola. Até mesmo nossa alimentação é instantânea ou industrializada... nem mesmo o leite que bebemos é integral de verdade!!!

O outro lado disso consiste justamente em percebermos que aquilo que nos faz subalternos ou nos castra, são apenas ideias. Tem, portanto, a força que uma ideia tem. E qual é a força que uma ideia tem? A força que damos pra ela! Quando olhamos para dentro de nós e reconhecemos quem somos, qual é nossa verdadeira história, que povos formaram o povo que hoje nos tornamos, vemos uma riqueza muito grande de valores, de tradições múltiplas e de possibilidades.

Respeitar a vida e viver uma espiritualidade à brasileira é deixar fluir em nós, antes de tudo a alegria. O pessimismo que se abateu sobre o mundo não faz parte de quem somos. O Brasileiro é otimista e trabalhador, mas gosta de futebol e carnaval. Ser alegre não deve retirar nossa seriedade, pois o oposto de ser sério não é ser alegre ou feliz, o oposto de ser sério é ser irresponsável. Podemos sim ser uma nação alegre, festiva, capaz de dar os braços de um lado à seriedade e até a formalidade do marido certinho e o outro braço, para o marido boêmio.

Dicas da Tribo:

1.Veja em que sua vontade está sendo castrada.

2. Veja, também, em que você se sente subalterno, sem voz.

3. Analise isso tudo com muito cuidado e veja se é essa vida mesmo que reflete quem você é na sua essência!

4. Para muito além das causas disso tudo, veja como é possível construir uma nova realidade conciliando aquilo que precisa ser feito com aquilo que deve ser feito para que você olhe seu rosto no espelho fixamente e veja nele, uma pessoa feliz em ser quem é.

5. Por fim faça uma simples pergunta para si mesmo(a): que parte da minha espiritualidade é tipicamente brasileira?


 
 
 

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