Você tem vergonha de quê?
- Ricardo Gonçalves, Eduardo Sales e Afrânio Andrade
- 27 de ago. de 2017
- 3 min de leitura

Olá turma da Tribo Pé no Chão!
Hoje vamos falar sobre vergonha. Sabemos que o tema é denso, e tem nuances sociais, culturais e psicológicas. Mas queremos propor uma reflexão dentro do contexto da espiritualidade à brasileira.
A origem latina da palavra vergonha (verecundia) conecta seu significado a pudor. Pudor por sua vez está associado com a idéia de castidade e virtude.
Neste contexto, percebendo o quanto as pessoas têm vergonha de coisas que integram sua própria identidade, resolvemos usar uma referência de Jorge Amado em Dona Flor e seus dois maridos para pensarmos uma forma de ajudar as pessoas a lidar corretamente com esse sentimento.
Sabemos que do ponto de vista psicológico e social a vergonha é um sentimento básico da criatura humana, comum a todos os seres humanos e que, no fim das contas, facilita nosso ajustamento social. Quando, contudo, os pensamentos fruto deste sentimento tomam graves proporções, as consequências podem ser terríveis, como ansiedade, sentimento de inadequação, isolamento, dificuldades de relacionamento e de expor opiniões ou sentimentos. Enfim, algo que até certo ponto liga nosso “semancol social”, pode, também, causar muita dor.
Nossa proposta com a Tribo é debater espiritualidade. Um tipo de inteligência que nos impulsiona à reflexão crítica diante da vida, e mesmo diante de sentimentos normais. Quando temos uma espiritualidade viva, conseguimos lidar bem com a vergonha e também com a necessidade de vencê-la em situações chave. Um ser humano espiritualizado adequa-se socialmente ao invés de viver uma vida de castração.
Jorge Amado em sua irreverência e profunda inteligência em diversas partes do livro Dona Flor, coloca em cheque esse sentimento e a necessidade de adequação impostos pelo moralismo religioso histórico. No trecho abaixo em que Vadinho tenta convencer Dona Flor a mostrar sua nudez, Jorge Amado faz uma leitura do “crescei e multiplicai” e ainda diz que “vadiação” é coisa de Deus, das mais “direitas” que Ele fez.
“Não sei vadiar nem coberto de lençol quanto mais vestido com roupa. Tu tem vergonha de quê, meu bem? A gente não vai se casar, não é para isso mesmo? E mesmo que não fosse, a vadiação é coisa de Deus, foi ele quem mandou que se vadiasse. "Vão vadiar por aí, meus filhos, vão fazer neném" que ele disse e foi das coisas mais direitas que ele fez.”
Se formos apenas literais na leitura do autor, perderemos a profundidade de sua idéia. É claro que tem algo de libertação dos tabus sexuais. Mas é claro, também, pensando numa espiritualidade à brasileira, que temos diante de nós um convite para pensar todas as “roupas” ou “máscaras”, que usamos e o quanto elas sufocam a vida. De onde vieram? Quais seus reais fundamentos?
Junto da vergonha, caminham o medo, a insegurança, a timidez, a incerteza e as carências ligadas ao sentimento de pertencimento. Muitas pessoas sobrevivem à vida, sem experimentá-la. Para que nossa vida seja plena, precisamos desenvolver em nós a capacidade de atender nossas necessidades humanas sem sermos vítimas de sentimentos que oprimem nossos desejos e sonhos.
É evidente que esta proposta não é uma proposta do tipo “vale tudo”! Trata-se de uma proposta de libertação pela consciência. É através da consciência mais clara que podemos nos valer daquilo que realmente importa sem afrontar os valores ou crenças de outros, mas sem abandonar ou deixar de viver a profundeza dos nossos próprios valores.
Outra coisa que muitos e muitas podem deixar passar, é que Jorge Amado é um autor que coloca em seus livros heroínas mulheres ou mulheres muito fortes e marcantes. Seja Dona Flor, Gabriela ou Tieta, em todas elas vemos uma luta pela libertação do machismo e dos preconceitos que até hoje assolam as mulheres. Para muito além do discurso feminista, a ideia de uma espiritualidade à brasileira, ou de uma espiritualidade sem vergonha, é uma proposta de vida plena. É uma proposta de rompimento com imposições e controles. É uma proposta para a vida ser vivida em sua máxima potência!
Dicas da Tribo. (no vídeo temos 3 dicas diferentes... assiste lá!!!)
Se você é muito inibido(a) ou sente muita vergonha, faça terapia, vai ajudar MUITO.
Se terapia não é para você, um curso de teatro pode ajudar bastante. Em Maringá existe uma ótima escola chamada Ingá Hum Escola de Artes Cênicas.
Técnicas como Programação Neurolinguística e Hipnose, feitas por profissionais realmente qualificados, podem ser de grande ajuda.
Programas de mudança comportamental como Coaching de Vida também são muito eficazes para ajudar você a vencer limites mentais e alcançar suas metas.
Mas lembre-se: nada disse vai resolver se você não tomar a decisão íntima de ser a única pessoa que você pode realmente ser e viver bem com isso, ou seja, Você MESMO(A).
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