5 Passos para quem não tem tempo de ser feliz!
- Ricardo Gonçalves e Eduardo Sales
- 3 de set. de 2017
- 7 min de leitura

Olá Tribo Pé no Chão! Que alegria concluir uma seqüência de vídeos e artigos inspirados em Jorge Amado. E a pergunta é simples: Você é uma pessoa em transição? Ou seja, quando está em casa pensa nas coisas do trabalho e quanto está no trabalho só pensa em chegar sexta-feira e correr para casa?
Quantas pessoas sofrem com a sensação estranha de lutar todos os dias e avançar pouco em direção aos seus sonhos mais doces... Esse conflito de tentar equilibrar as diferentes dimensões da vida é típico da modernidade, num mundo onde temos cada vez menos tempo e as coisas parecem que correm cada vez mais rápido!
Para compreender alguns aspectos de uma espiritualidade à brasileira, convidamos você, neste texto mais longo, a visitar a jornada da Heroína Dona Flor (na obra literária Dona Flor e seus dois maridos), e perceber os importantes passos que podemos extrair da frutífera inteligente do autor baiano, em direção a uma vida FELIZ!!!
Numa jornada, um herói e neste caso uma heroína, passa por 3 etapas básicas:
A busca pela Felicidade;
A Tragédia, onde a vida e seus dramas vencem a utopia ou sonho projetados pelo herói em sua mente.
A Conquista, onde os obstáculos são vencidos e a aprendizado faz do herói ou heroína alguém mais forte.
Em cada etapa destacamos alguns passos seguidos por Dona Flor, que podem ajudar você a ter ótimos insights sobre a espiritualidade à brasileira e ao mesmo tempo encontrar alternativas para ser feliz com a vida que você tem e forças para conquistar os objetivos e a vida que ainda não tem, mas que deseja MUITO!
Na 1ª Etapa, a busca pela felicidade, Dona Flor tem dois passos importantes:
1º passo: A busca pela felicidade.
Todas as personagens do livro buscam por vidas que não tem. Seja um casamento bem arranjado, ou um marido bom, ou uma vida de boemia e sem riscos, seja a integração da vida em todas as suas diferentes frentes (trabalho, família, religião, etc...). Nestas buscas, todas as personagens são tipicamente brasileiros(as), sonhando com dias melhores, enfrentando suas rotinas com o máximo de alegria, tentando vencer profissionalmente, enquanto sonham com o amor romântico e crendo, seja na proteção de Deus, seja na proteção dos Santos ou Orixás.
2º passo: Somos todos índios, o conflito urbano x rural, a crise da desconexão e reconexão. O religare, que as religiões oferecem.
Aqui podemos ver que todos nós herdamos alguma coisa da espiritualidade indígena e da exuberância das belezas naturais de nosso país. Seja o gostar de pescar, de ir para o mato, de estar seminu na praia, de se reunir para banhos em igarapés e churrascos, seja na correria pelos feriados prolongados em que nos sentimos mais vivos mudando nossos ternos e roupas formais pela simplicidade de caminhar com os pés descalços sobre a Pachamama, seja na nudez das roupas simples de casa... Ou seja, somos todos da Tribo Pé no Chão!
Em algum momento, vemos que a simplicidade ou o contato com a natureza são pontos chave para nossa felicidade e para a manutenção da vida em nosso planeta. Os índios têm muito a ensinar com suas ricas culturas, e uma destas coisas é a não perdermos a conexão com a Terra, não perdermos a conexão com a Vida que pulsa em toda parte e não perdermos de vista que tudo está ligado com tudo. A separação é uma ilusão criada para dominação do homem pelo homem e para a exploração desenfreada e desmedida dos recursos naturais.
No texto de Jorge Amado encontramos: “Dona Flor parecia uma negra, negra e pelada. Nua por dentro também, amargando de desejo, fremente, com pressa, muita pressa, como se Vadinho lhe despisse a alma. Ele dizia coisas, maluquices.”
Essa nudez por dentro, é a nudez da alma. Nudez de alguém que se entrega por inteiro à vida, sem medo, sem pudor, sem medo de se permitir ser feliz por inteiro, mesmo que com um “marido morto e vadio”!
Na segunda etapa da Jornada, a tragédia, Dona flor dá dois outros passos:
3º passo: Quando a Tradição se choca com a Vadiagem, e pensamos que a felicidade está nos extremos.
Assim como Dona Flor vivia o conflito de tentar viver ou a felicidade com o marido morto (a vadiagem) ou a felicidade com o marido vivo e conservador, mas seguro e estável (a tradição) em nossas vidas é comum que também pensemos a felicidade no “ou” “ou”. Na religião também vivemos esse drama, afinal, a religião é parte da vida. Ou a festa ou os estudos. Ou casado ou sorteirão. Ou nas baladas ou na igreja. Ou no trabalho ou no lazer. Enfim, onde anda essa tal felicidade? Existe muita culpa e muitas regras que fazem nossa espiritualidade castrada reprimir o que realmente queremos, e não nos permitimos viver. Dona Flor também se sentia culpada, reprimida.
Diz o texto: “[...] para fazer alguma coisa Dona Flor foi arrumando sua roupa e a dele nos armários. Aos pés da cama, os dois pares de chinelos; sobre a colcha o vistoso pijama amarelo do doutor e camisola de rendas e babados.”
As roupas postas lado a lado mostram o conflito: uma mulher cheia de desejo e um homem vestido com uma roupa igual à do trabalho, mas amarela. Ela querendo tudo que a vida a dois pode dar, ele, preso ao tradicional. Ambos infelizes.
Esse lado a lado dos pijamas mostra que nossa espiritualidade à brasileira é também lado a lado. E aqui não entendamos lado a lado como “separadamente”. Temos no Brasil, de forma inquestionavelmente interpenetradas, as realidades religiosas e culturas da tradição cristã romana e claro a protestante, das culturas indígenas e afro e sem dúvidas do espiritismo.
Mesmo na cultura popular ou no imaginário do povo, todos os elementos destas diferentes fontes acham morada, mesmo que as pessoas neguem ou reprimam. Seja nos ritos, na arte, na música, na culinária ou nos causos de “almas penadas”, tais elementos andam também lado a lado com a cultura popular. O preconceito é obra do colonizador!
4º passo: ainda na etapa da tragédia, daqui temos uma luta para conciliar dor e alegria.
Os elementos carnaval e cachaça da obra deixam claro que no imaginário do brasileiro, a festa não pode parar. A provocação do autor é clara. Quando o Vadinho morre na festa, é evidente a tragédia. A vida é assim também. Num dia festejamos e no mesmo dia o drama está sujeito bater à nossa porta. A morte ronda todos os vivos é a certeza que vem junto com a vida. Em cada inspiração e expiração, temos o óbvio: pode ser a última vez. Além disso no trecho “Velório sem cachaça é desconsideração ao falecido, significa indiferença e desamor” ´é evidente que Jorge Amado nos convida à alegria. Alguns poderiam dizer que nos convida à fuga da dor pelo vício ou à analgesia. Mas sua irreverencia nos permite propor uma interpretação que vai mais longe do que a literalidade do termo “cachaça”.
Ele nos parece provocar para uma reflexão sobre alegria contida, sobre liberdade retirada, sobre uma morte, que talvez seja a pior de todas: a de viver sobre o julgo de leis ou regras castradoras do ser.
Assim, fica o alerta, a dor faz parte da vida! Mas a alegria precisa dar o ar da graça! Sem a alegria a vida é martírio. E não precisa ser assim. Seja para quem acredita ou não em Deus, existem muitos elementos na vida e na natureza que nos permitem acreditar que a vida, com dores e alegria, é maravilhosa, mesmo que os melhores dias ainda estejam por vir.
Suspeite do seu caminho se nele não há alegria!
Suspeite do seu caminho se diante da dor, você se desespera! Toda dor guarda consigo uma esperança...
Na 3ª etapa da jornada (A conquista), o 5º passo: a realidade conciliada.
Nesse passo o herói ou heroína abraça a tragédia (concilia as diferenças) não luta mais contra as diferenças, mas aceita e inclui. Percebe que a vida é assim, tem seus momentos... percebe que as diferenças no trabalho, climas e tensões são criados dentro de nós e são fruto de nossas resistências (Vadinho x Teodoro dentro de nós). E, quando diante de injustiças, que também existe, um herói ou heroína não teme, e encontra soluções das quais não se envergonhará depois.
Nesta etapa, o herói ou heroína encontra maneiras de ter paz consigo mesmo. Entende que isso só depende do quanto ele(a) se apega à realidade à sua volta ao invés de apegar-se à sua interioridade.
Aqui, o herói ou a heroína encontram formas de satisfazer suas necessidades, sem culpas. Nesta etapa, aprendemos (mesmo que errando muitas vezes) que é preciso criar os ambientes para que o prazer aconteça, é preciso perceber que tempo é vida e não meros ponteiros de um relógio.
Na religião o herói e a heroína aprendem que uma felicidade graciosa, flexível e amorosa é preferível e são muito mais de acolher, do que de julgar.
A espiritualidade á brasileira tem por fim, uma característica que é a luta social, étnica e cultural que tentar conciliar a diversidade, reunindo diferenças sociais gigantescas e com algum sucesso, sem anular tais diferenças.
São os pensamentos colonialista, capitalista, imperialista e patriarcal-machista que tentam (de forma crescente infelizmente) atrapalhar o sucesso que essa espiritualidade aberta pode trazer.
Diz o texto final de Jorge Amado:
- Vadinho: “Eu sou o marido da pobre Dona Flor, aquele que vai acordar tua ânsia e morder teu desejo, escondidos no fundo de teu ser, de teu recato. Ele é o marido da senhora Dona Flor, cuida de tua virtude, de tua honra, de teu respeito humano. Ele é tua face matinal, eu sou tua noite, o amante para o qual não tens nem jeito nem coragem. Somos teus dois maridos, tuas duas faces, teu sim, teu não. Para ser feliz, precisas de nós dois. Quando era eu só, tinhas meu amor e te faltava tudo, como sofrias! Quando foi só ele, tinhas de um tudo, nada te faltava, sofrias ainda mais. Agora, sim, és Dona Flor inteira como deves ser.”
Portanto, lembre-se: os passos para se viver uma espiritualidade à brasileira que te permite ter tempo para ser feliz “por inteiro” são:
Seja Otimista, mas não seja tolo(a)!
Compreenda que a Espiritualidade à Brasileira é indígena-afro- cristã-espírita e diga não à intolerância, ao preconceito, ao machismo...
Integre em sua vida Tradição e Vadiagem, regras e festas, com prudência, claro!!!
Encontre alegria mesmo diante da dor. Ambas têm o que ensinar... aprenda!
Reconcilie os extremos que ecoam dentro de você. Ache os pontos que precisam de reconciliação em sua vida, e reconcilie-se agora!
Comentários