Como Lidar com o Chefe FDP
- Ricardo Gonçalves, Eduardo Sales, Afranio Andrade
- 10 de nov. de 2017
- 6 min de leitura

Olá Tribo Pé no Chão.
De início, devemos salientar que uma classificação a priori de que todo chefe é necessariamente FDP parece não contribuir para uma boa relação no trabalho. E de fato, há chefes que não o são. Toda regra tem exceção. E, ainda que todos os seus chefes anteriores tenham sido FDP, com certeza, seu chefe atual não é um destes.
Brincadeiras à parte, por incrível que pareça esta designação, ainda que pouco polida, parece ser a que melhor caracteriza aquele chefe que normalmente não gostaríamos de ter mas que, independetemente do nosso querer, está lá, montado no nosso cangote, dando ordens que quase sempre somos obrigados a engolir goela abaixo... Você sabe do que estamos falando. Pois bem. A questão não está em definir. A questão aqui é bem outra: como lidar com este tipo de chefe? E as respostas são muitas, mas, infelizmente, é fácil de se perceber que nenhuma das respostas que nos dão nos convence definitivamente de que, a partir delas estaríamos finalmente com a chave de ouro na mão. Parece que há, no fundo da alma, uma busca para uma resposta que possa nos orientar de forma a melhor nos satisfazer diante desta questão. E esta é a razão destas poucas linhas que não pretendem esgotar o assunto, mas indicar três pilares que a nosso ver dão uma boa resposta para esta questão.
O primeiro pilar vamos encontrar no livro “O Maior Vendedor do Mundo”, de Og Mandino (1923-1996). Nesta obra o autor descreve o maior vendedor do mundo como aquele que chega ao trabalho antes de todos os outros e sai dele depois do último cliente. O maior vendedor do mundo tem um chefe, um senhor, um superior. E este superior é o seu negócio, sua atividade, suas vendas. A leitura atenta desta obra deixa claro que não há nenhum chefe ruim. Não há nenhum senhor déspota, não há nenhum superior desprezível. Pelo contrário, quando nós mesmos, ao longo do nosso labor, nos fazemos senhores das nossas emoções, nós construímos em nós “o maior milagre da natureza”. Mais que isto, a cada dia conseguimos “viver o hoje como se fosse o último dia.” E assim fazendo, o autor aconselha a todos a “formar bons hábitos e se tornar escravos destes hábitos.” Aconselha a “agir a cada momento, no agora”, como se não houvesse amanhã. E assim agindo, centuplicar a cada dia o seu próprio valor. Agir na fé de que o trabalho que você tem diante de você, com as pessoas que se apresentam, sejam elas os clientes ou vendedores – ou o seu superior – constituem-se no melhor que você tem para o momento. E é este e nenhum outro o motivo para você poder se convencer de que deve “persistir até alcançar o êxito de que necessita em sua vida”. E por tudo isto, você, trabalhador, tem motivos de sobra para “rir do mundo” e se saciar da alegria de se encontrar com o que se tem para o momento e, bem por isto, com alegria, a cada dia de trabalho “saudar este dia com amor no coração”. Agindo desta forma – garante o autor – não há nada que possa impedir o seu êxito. E este sim é um pilar em que se pode apoiar: o foco da questão está em você – e não no seu chefe.
O segundo pilar encontramos na obra “Como evitar preocupações e começar a viver”, de Dale Carnegie (1922-1955). A obra narra diversos acontecimentos em que ficou demonstrado que as preocupações não resolvem nenhum problema. Entre os vários capítulos, o autor aponta a técnica fundamental de análise de preocupações indicando que o seu cerne está em “tomar decisões”. Em poucas palavras: reclamar do seu chefe não resolve nada, nunca. Da mesma forma que não se chega a qualquer resolução saudável reclamando de quem quer que seja. Assim, em vez disto, volte-se para si mesmo e tome uma decisão. E assuma para si mesmo que qualquer decisão que você tomar terá consequências para si próprio. Neste contexto, inspirados no autor podemos dizer que, se você está preocupado, avalia que o seu chefe não é um mal na sua vida: ele é uma pedra que está ali para ser superada por você – e não para ser removida. Uma pedra é uma base firme. Sinta-se apoiado nessa pedra e tome uma decisão em sua vida: passe a vê-lo como necessário em todo o processo e o envolva em todas suas atividades. Uma vez tomada uma decisão, sua cabeça estará livre para o trabalho, já que o seu chefe não é mais objeto de nenhuma preocupação de sua parte.
Por fim, se você ainda não se convenceu que o foco não está em seu chefe, mas em você, dê uma lida em Mateus 5,40, onde o mestre ensina: “Se alguém te forçar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil.” Traga isto para relação com seu chefe e veja se por acaso ainda não se deu conta de que, na realidade, você pode não está sendo competente o suficiente. Não há chefe FDP no mundo que não valorize um subordinado porreta que faz muito mais do que é esperado dele.
Se você percebeu que muitos chefes são chamados de FDP por subordinados FDP, não esteja neste rol. Tome uma decisão na sua vida.
RELAÇÕES DE PODER
Como apresentado no vídeo da Tribo, não é fácil lidar com chefe FDP.
Entenda que toda relação é um conflito de poder. São dois que se arrogam e estabelece-se o conflito até que haja equilíbrio que pode ser: 1) orbitar à distância; 2) chocar e explodir.
Na órbita, um é regente e o outro regido. Em outras palavras, um dos dois se impõe até que o outro recue. No Brasil existe um histórico colonizador que bagunça as relações, principalmente as trabalhistas, onde a relação de poder se estabeleceu desenvolvendo um senso de inferioridade dos trabalhadores em relação a seus chefes. Isso dificulta tudo, porque, para ser considerado FDP, basta se opor a alguém, ou cobrar, ou estar na posição regente.
ASSIM, AS DICAS SÃO:
Não parta do princípio que seu chefe é FDP, mesmo que seja. Bom, se você identificar seu chefe com Satanás, seu local de trabalho será o inferno.
Entenda e aprenda a lidar com as relações de poder. O planeta Terra é gigantesco, mas, diante do Sol, a melhor escolha é orbitar(girar em torno). Tanto porque pode ser proveitoso para ambos.
Entenda que as relações de poder fazem parte das estruturas trabalhistas por uma questão organizacional e não essencial. O chefe não é essencialmente melhor que você e nem você é essencialmente inferior que seu chefe. Fora do ambiente de trabalho a investidura profissional não deve parametrizar nossa vida. É a vida que dá sentido ao trabalho e não o contrário.
Cuidado com as relações familiares. Geralmente transportamos padrões de comportamento familiar para nossos locais de trabalho. Os mais velhos tendem a tratar os novos como se fossem filhos e os mais novos com se fossem os pais e os da mesma idade como se fossem irmãos. Assim, conflitos de geração, imposições e broncas, birras e criancices, rivalidade de irmãos, são algumas relações bem comuns no local de trabalho.
Valorize a sabedoria feminina. É comum que os locais de trabalho se tornem reinos da testosterona. A sabedoria masculina geralmente é bélica, infantil, rivalista e de pouco diálogo. A sabedoria da mulher é mais comunitária e comunicativa, geralmente harmoniosa e não dada a guerra e rivalidade (não que não haja situações entre mulheres, até há algumas síndromes como a da dona de casa que transforma o local de trabalho na sua casa, e, quando chega outra mulher, sente sua posição ameaçada).
Pessoas difíceis não resistem diante de fatos e dados, assim, é importante não ser uma pessoa demasiadamente emocional. Uma postura profissional firme, de auto-valorização, e sempre atenta aos fatos e dados é uma ótima estratégia.
O objetivo é construir um ambiente diferente. Toda relação é uma relação de poder. Isso não é possível mudar. Mas, como a órbita, é possível mudar a direção e o sentido do poder e produzir movimentos que sejam saudáveis para ambos.
Por fim, lembre-se: se você acha seu chefe FDP, mas ele te paga, isso por si só, já é uma grande coisa. Se você prestar bem atenção é capaz de fazer uma listinha de outras tantas pessoas que também tiram um pouco da tua paz e não colocam nenhum centavo no teu bolso.
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